segunda-feira, 25 de maio de 2009

ANGUSTIANTE VESTIBULAR

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“A obrigação de decorar fórmulas foi a maior, e mais inútil, tortura pela qual passei na vida” Albert Einstein

“Se eu for um marceneiro, não preciso carregar um soldador. Não tenho porque levar peso desnecessariamente. É isso o que faz o vestibular. Cobra coisas absurdas que um aluno nunca vai usar.”
Rubem Alves


           Meu filho sempre gostou da área médica e tentou várias vezes o vestibular para Medicina, mas diante do massacre daquelas seleções, particularmente nas universidades públicas, acabou formando em Fisioterapia e especializando-se em Acupuntura. Hoje, bem resolvido pessoal e profissionalmente com sua “medicina chinesa”, enche a mim e à sua mãe de muito orgulho e admiração.
Mesmo assim, não consigo esquecer daquela época dos vestibulares, um período de muito sacrifício e tensão para nós, pais, e muita ansiedade e expectativa para ele.
           Talvez se estivesse em vigor o novo Enem, teriam sido evitados tantos sofrimentos, já que a expectativa agora é de que as provas sejam voltadas para a investigação e contextualização, não mais para a memorização, selecionando candidatos com base em conhecimentos adquiridos no conteúdo programático do Ensino Médio, e mais, com a possibilidade de se atribuir pesos diferentes de acordo com as áreas de conhecimento para o curso escolhido.
           Tentando mostrar para os amigos, pais, que ainda vão passar por esta fase tão desconfortável, resolvi expor esta carta o que escrevi, à época, para o meu filho, e que guardo com muito carinho, já que serviu para constatar, ao longo dos anos, que nada é obstáculo à realização de qualquer sonho, mesmo quando os resultados imediatos nos pareçam adversos.

Querido Fernando Fellipe,
           Gostaria de lhe escrever com as soluções para as dúvidas que, normalmente, aparecem na sua idade, que é uma fase da vida em que nossas perspectivas são amplas, nada é obstáculo e que tudo podemos. Quando se trata então de um ser humano especial como você, tudo tem outras dimensões, os horizontes são ainda mais amplos, e o único obstáculo à realização de qualquer sonho, será sempre você mesmo.
           Ontem, depois do seu telefonema, pude perceber seu medo em pensar grande, morrendo de medo de seus sonhos, talvez pela relação candidato/vaga para a opção que você escolheu, mas, desde o início, você sabia que a vaga para este curso não é e nunca foi fácil para ninguém.
           Esforçar-se para superar os medos e as dúvidas a respeito de sua capacidade e ficar cara-a-cara com suas limitações, será o grande vestibular de sua vida e, mais importante do que próprio ingresso na universidade, esta consciência é que irá realmente capacitá-lo a ser um vencedor, abrindo-lhe todas as portas para que possa se realizar.
           Rezo para que não tenha as mesmas atitudes que tive na sua idade, que não se deixe seduzir pelo conforto dos caminhos mais fáceis, como já conversamos em outras oportunidades. Nada que realmente valha à pena e tenha valor vêm sem sacrifícios ou algum tipo ele privação.
           Aperta-me o peito vê-lo tão só, mas, a partir de agora, a caminhada é sua, e, apesar de estarmos sempre a seu lado "'para o que der e vier", a segurança que você encontrava em mim e em sua mãe agora está em você, na responsabilidade de suas ações e na consciência de que está fazendo o melhor.
           Sei que você conseguirá porque acredito na concretização de toda vontade persistente acompanhada de muito esforço pessoal.
Um beijo carinhoso deste pai que muito te ama.
Fernando Antônio Oliveira

* Postagem original na Gazeta de Muriaé

16 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Fernando, as dificuldades relacionadas com vestibular são muito angustiantes, principalmente em cursos tão concorridos como Medicina.

No entanto, ter um pai como você, que estimula mesmo diante de tão poucas chances de sucesso, deve dar um combustível a mais neste processo.

Assim como você, também acredito que o novo Enem pode ser uma alternativa de mudança para este quadro que temos, não só de angústia a apreensão, mas também de decoreba e assimilação formal de conteúdos.

Tenho buscado escrever em meu blog, sempre que possível, sobre estas mudanças previstas com o novo Enem. Naturalmente, como professor de história, direciono para área de humanas.

Um grande abraço

Teresa Pombo Pereira disse...

Fernando, obrigado por partilhar esta sua história. Grande sensibilidade! É complicado seguir as mensagens do grupo Blogs educativos mas hoje, antes de marcar como lida, resovli clicar no link. Estava destinado que lesse :-)
Hoje na minha aula com os alunos de 9º ano (14/15 anos), o ano antes de escolherem a área de especialização do secundário discutimos esta frase da obra "O Principezinho": «Sempre a direito não se vai muito longe.». Acho fundamental acompanhar os nossos jovens, faze-los sentir que devem procurar ser os melhores no que fazem , mas sobretudo procurarem aquilo que os faz felizes. E que por vezes um aparente obstáculo no caminho terá um significado no futuro bem diferente.
Obrigada!

Roseli Venancio Pedroso disse...

Oi Fernando,
Pois é amigo, todos nós que já passamos por essa "tortura" sabe o quanto dói. Sempre discuto aqui com meus colegas de trabalho, sobre o quanto os jovens de hoje são massacrados e pressionados para passar no vestibular. Isso sem dúvida precisa mudar. Mas olha, sua sensibilidade de pai foi mais além e tenho certeza que seu filho sabe o quanto é privilegiado em ter um pai presente e amigo. Nem todos têm essa sorte.
Bjs

Dadace disse...

Meu irmão,
Você um talento nato "perdido" em Itaperuna e Retiro( que bom para o povo de lá!)Seu blog é interessante, profundo. Não é qualquer professor que consegue fazer algo assim. Eu mesma não consigo.Esse seu texto sobre o vestibular é muito bom.Um paizão assim apoia qualquer filho. Ajuda a refletir sobre os vestibulares e também a educação;é ou não importante? Isso sem falar no modelo que ilustra o texto...

https://http//bloguetando.blogspot.com disse...

Querida Dadace,
Até que enfim! Você não pode imaginar minha alegria em receber, em um blog que tem a pretensão de falar em educação, um elogio vindo de uma pessoa que formou tantos professores aqui em Muriaé e região.
Aproveito a oportunidade para dizer que foi você quem me deu a inspiração para o magistério, quem faz germinar a semente que herdei (herdamos) do vovô Dipo (http://bloguetando.blogspot.com/2009/01/sonhar-programar-e-realizar.html).
Te amo com toda a força do meu coração

Unknown disse...

Fernandão,

O Felipe é um dos caras mais sortudos que conheço! Ter um pai com esse "grau" de conhecimento, de abertura e de sensibilidade é pra poucos, nao tenho dúvidas!

A carta, endereçada ao "pentelho irritante"(rsss) em questão é absurdamente profunda, objetiva... quisera eu ter recebido esse tipo de apoio numa fase tão difícil como esta. A "enxurrada"de conflitos internos e externos quase me fez pirar...
Parabéns! Como diz o próprio Felipe, o pai dele "é F***"! Ops! Exagerei??!
Gde abraço!

Fellipe Archanjo disse...

Papai,
Tenho essa carta guardada comigo ainda, junto a outras tantas coisas que gosto escritas por você.
Tem uma frase em especial que deixou datilografado pra mim na minha máquina de escrever bem antes desse episódio discutido aqui no post que deixo sempre a vista, ainda naquele mesmo papel, hoje bem amarelado.
"Por mais profunda que seja a tristeza ou dolorida que seja a dor, sinta apenas o gosto da vida. Trace seu destino, rebele-se sem culpa para que amanha não te culpem por omissão ou conivência. Do papai ( aquele do biço) que sempre te amou."
Acabo não discutindo com a turma o tema do post, mas deixo registrado aqui meu Obrigado pelo apoio, carinho e compreensão de sempre.
Que pai foda que tenho!
Te amo imensamente.

Unknown disse...

Caro amigo,

Um pouco a parte da temática do post, a história que lhe serviu para ilustrar é linda e parece ter saído de um belo conto do fadas. Mas isso foi real e, para o bem do homem e sorte alguns poucos afortunados, como o Fellipe, pais assim também são reais. Acredito que não seja o único (eu mesmo, como seus filhos tive essa sorte, só que com minha mãe), mas um dentre poucos. Parabéns!
Tratando do assunto educação, creio que o novo enem não muda a situação dos vestibulandos, a concorrência continuará pesada e não soluciona a angústia daqueles que, apreciando muitas coisas, não sabem o que escolher (minha irmã, como eu sofri, sofre por não saber em que curso marcar da ficha de inscrição marcar o "xis".
Além disso, percebo algumas incongruências que tangem esse assunto no nosso patropi:
(1) Falta de opção quanto à formação profissional, o ensino superior é, basicamente, o único caminho para se profissionalizar tecnicamente, não há ainda uma política seria em relação ao ensino técnico no país. Isso leva a um inchaço do mercado de trabalho, mta procura e pouca demanda. Um exemplo disso é o meu caso: formei-me com, se não me engano, mais 24 colegas; no ano seguinte, além daquelas pessoas que já estavam no mercado (2 ou 3, no máximo), apenas eu tinha um contrato de trabalho na área, não tinha lugar sequer para todos aqueles que eram ditos "promessas". Curso superior não é garantia de emprego nem para os alunos mais espetaculares. Semana retrasada n'O Globo, saiu uma matéria muito interessante da geração superqualificada na Europa: doutores taxistas, operadores de telemarketing... Só pra pontuar, em um outro momento discuto isto mais a fundo, mas sou ABSOLUTAMENTE contra a facilidade de se fazer um curso superior no Brasil.
(2) Muitas mudanças no topo da pirâmide: vemos muito se alterarem as formas de ingresso nas universidades, o número de vagas, as políticas do ensino superior (que se transformou em uma instância política), mas mudanças EFETIVAS na base NADA!
(3) Educação mercantilista: o ensino no Brasil é um mercado muito rentável, haja vista a quantidade de escolas particulares, cursinhos, faculdades etc. Tudo isso movimenta uma grana preta, sem falar na indústria dos livros didáticos, dizem as más línguas, aquela que estaria por trás da Reforma Ortográfica. Um outro lado dessa moeda são os alunos, principalmente os menos abastados: os pequenos em idade escolar não querem e não gostam de estudar (um problema social, a meu ver); e aqueles que acabam por voltar à escola mais velhos ou mesmo adolescentes que conseguem ver algum valor na escola vêm nessa uma forma de ascenção econômica e social, o que é extremamente ruim.
O assunto ainda dá muito pano pra manga, mas já me estendi demais.

Bom... espero não ter sido chato!

Um forte abraço!

https://http//bloguetando.blogspot.com disse...

Caro Igor,
Tenho plena consciência que os conflitos familiares são reais, estão aí diante de todos e, apesar das aparências que este post possa sugerir em termos de harmonia e entendimento (“conto de fadas”), também tive muitos conflitos com meus filhos.
Quanto ao vestibular, é claro, os melhores continuarão sempre nos primeiros lugares, a principal mudança (revolução) será valorizar a interpretação e a contextualização em detrimento da decoreba, concedendo pesos diferentes por áreas de conhecimento, isso, convenhamos, será um grande avanço.
Da mesma forma que um copo de água pela metade está, dependendo de quem o vê, meio cheio ou meio vazio, acho que tudo está associado ao nosso olhar sobre as coisas... tudo uma questão de postura.
O dragão do pessimismo é tão grande e forte que nos transformamos em quixotes sonhadores quando ousamos “acreditar”.
Você, sempre questionador, foi um dos alunos mais brilhantes que tive, e o único que se transformou em par no magistério.
Tenho uma grande admiração por você

pedagogica mente blogando disse...

fernando, é emocionante ver um diálogo tão bonito entre paie filho em 2009!!!!!qdo a gente vê tanto filho perdido, sem norte, sem um pai f........ como esse! heheheheheparabéns de novo...to ficando recorrente....só falo isso.....recebi a revista....obrigada!nem vou falar que fiquei morrendo de dor de cotovelo por nunca ter feito um trabalho assim!hihihihhhimuito boa vc é f.....mesmo!tchadoro e sou tua fão nº1(se ainda couber mais alguém nessa cadeira!)
vera

esteblogminharua disse...

Fernandão, parabens pelo novo visual. Esta 10! Bem profissional e clássico.
Eu, seguindo o conselho da Su Gutierrez, acabei com esse negocio de moderação de comentário no meu blog. Pq. nao faz o mesmo??
Franz

Elis Zampieri disse...

Olá Fernando!
Adoreeeeei o novo visual. Pra falar a verdade aquele outro me incomodava um pouco, parecia uma corda no seu pescoço! Eu nunca entendi direito :-)
Esse ficou muito show!
Bom domingo meu amigo!

https://http//bloguetando.blogspot.com disse...

Oi Elis!
Estou pensando seriamente em seguir o conselho do Franz e da Suzana e parar de “comentar comentários”, mas morro de inveja de suas poesias e, das poucas que escrevi, e que gosto mais, era a que ilustrava a barra do blog... “Navegar-me”, está no Varal de poesias da Marli: http://varaldepoesia.blogspot.com/, e aquela corda no pescoço era uma alusão a um trecho da poesia:

DAR VELAS AOS SONHOS,
DESCORTINANDO A VISÃO.
DESFAZENDO OS NÓS
DAS AMARRAS AO CHÃO.
Idiota né?

Jenny Horta disse...

Parabéns pelo novo visual e principalmente pelo conteúdo!

Elis Zampieri disse...

Oi Fernando, sobre a moderação de comentários, o Sérgio advogou suficientemente bem pra também me convencer. :-) Faz isso sim.
Quanto as minhas poesias, Fernando...lisonjeadíssima com seu comentário. A gente não aprende a escrever poesia, a gente nasce com ela. E ela fica lá dormente até que algo a faça acordar em nós. Aí a gente começa, aprimoramos sim a forma de escrever, mas isso nem é o mais importante.
Não existe poesia besta meu amigo. Já dizia Mario Quintana, "as vezes a gente pensa que está dizendo bobagens e está fazendo poesia." Sua poesia é linda e acho que se sente inveja é porque gosta, e se gosta é porque ela já existe em você, acho que deveria escrever mais. Com toda essa sensibilidade com certeza escreveria lindamente. E inspiração pelo jeito, não te falta.
Se tiver alguma coisa escrita e quiser me enviar, adoraria te ler.

Beijo grande amigo.
Ps.: Se der tempo, respondo email ainda hoje.

Luis Dhein disse...

Fernando, confesso que é a primeira visita que faço a seu blog, e também posso adiantar que é a primeira de muitas. A sensibilidade do seu texto é algo raro de se ver. Parabéns e te convido a uma visita no Caminhante Aprendente.
http://caminhanteaprendente.blogspot.com

Abraços