segunda-feira, 26 de outubro de 2009

DESIDEOLOGIZAR PARA NÃO AMARELAR



Eu participando de uma entrevista com o então Ministro da Educação Paulo Renato.

Rascunho online
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           Apesar de sonhador, sou um pragmático idealista, por isso não canso de repetir a frase de um artigo que escrevi aqui no blog: "(...) É ingenuidade pensar que algum sistema possa ser perfeitamente bom ou fatalmente ruim, por isso, independente de socialismo ou capitalismo, só acredito em política ou ideologias, quaisquer que sejam, se quem as estiver praticando for movido unicamente por 'elevados sentimentos de amor', e esta posição vale tanto para quem se coloca à 'esquerda' ou à 'direita' do razoável, por isso estou sempre procurando me livrar de verdades que em vez de somar, só dividem (...)".
           Duas postagens atrás polemizei com um colega que passei admirar, e com o qual tenho muito mais convergências do que divergências, quando defendi a necessidade de se discutir, de forma ampla, alguns assuntos ligados à mudança na educação que são “tabus” em nosso meio.
           Como disse nesta postagem recente: “... as idéias são medidas pelas reações que provocam... se não tem valor, são ignoradas e passam despercebidas. Se provocam reações, então precisam ser esmiuçadas e debatidas exaustivamente, de preferência por uma quantidade maior de pessoas, por isso quis publicá-las aqui no blog ...”
           Esta semana a Revista Veja fez uma entrevista com o ex-ministro e Secretário de Educação do Estado de São Paulo, Paulo Renato, o qual abordou temas “imexíveis” sobre os quais, além do que já falei no início sobre "desideologizar", e sobre corporativismo (24/09/2009) também fiz algumas reflexões sobre outros dois temas abordados: “meritocracia” (no serviço público clique) e “autonomia pedagógica”.
           Outro tema que me chamou atenção na entrevista foi quando o Secretário de São Paulo disse: “(...) uma idéia bastante difundida no Brasil é que o professor deva ter liberdade total para construir o conhecimento junto com seus alunos. É improdutivo e irracional. Qualquer ciência pressupõe um método (...)”.
           Apesar de saber a opinião da maioria dos colegas quando o assunto é melhorar a gestão escolar nessa linha, que chamaram pejorativamente de “Escola/Fábrica/Negócio”, atribuindo ao "neoliberalismo" qualquer tentativa de introduzir palavras como "planejamento", "padronização", "controle" ou "avaliação de desempenho", lembrei do Senador Cristóvão Buarque (Ex-ministro Educação presidente Lula) falando sobre federalização do ensino na campanha das últimas eleições presidenciais: “Você já reparou que uma agência do Banco do Brasil é igualzinha em qualquer lugar que você for? O funcionário do Banco do Brasil ganha o mesmo salário, não importa a cidade rica ou pobre onde ele trabalha e o método de trabalho é o mesmo de norte a sul do país... Por que isso não acontece na educação?"
            A respeito da autonomia pedagógica, as Secretarias de Educação deveriam ser mais específicas e planejar com mais cuidado os conteúdos ministrados nas escolas, contando, para isso, com ajuda de universidades federais e estaduais; ao contrário do que ocorre atualmente, em que de tempos em tempos, os professores escolhem livros didáticos entre dezenas de editoras, cada um completamente diferente do outro e, ao final, sem nenhuma padronização, cada escola adota um livro diferente.
            Se houvesse padronização curricular, capacitação de professores direcionada para cada conteúdo, e introdução obrigatória de componentes elementares como “dever de casa”, pais participando, efetivamente, da vida dos filhos na escola, e uma conexão eficiente entre a sala de aula e o laboratório de informática para redimensionar o básico necessário dos livros, aí sim, estaríamos iniciando um processo de aprendizagem com tudo para dar certo.
            Ainda um pequeno parêntese sobre este assunto... na maioria das escolas, o laboratório de informática não passa de uma sala de lazer, sem professor qualificado para a função.
           concomitantemente deveria ser criado um sistema de avaliação mais específico, com a própria Secretaria de Educação preparando as avaliações, por série, de acordo com o conteúdo, avaliando continuamente o rendimento dos alunos e, paralelamente, mensurando a eficiência do professor, aí sim, individualmente, os incentivos viriam por mérito e competência.
            Não existe consenso sobre estes assuntos em nosso meio, mas é necessário desprendimento ideológico para tratar de um tema tão importante, deveríamos seguir aquela máxima de Paulo em Tess 5; 11 "Examinai tudo: abraçai o que é bom" e, se necessário, aperfeiçoar ou até mudar nossas idéias, o que não podemos é ficar reproduzindo indefinidamente o que aí está, baseado em conceitos ultrapassados, e deixar de usar um mínimo de criatividade para melhorar a educação do nosso país.
        



E-mails dos amigos de blogs educativos na época sobre o assunto:
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Em 07/04/2017: Sempre gostei do contraditório e por várias vezes, em meu blog, disse que sou um idealista prático.
Agora, oito anos depois, relendo a postagem acima, senti necessidade de fazer a correção nesse ato falho, de "pragmático eclético" para "pragmático idealista". 


3 comentários:

Sérgio Lima disse...

Opa Fernandão,

Me permita, chamá-lo assim :-)

Realmente o mundo é muito mais complexo do que as ideologias possam enquadrar. E em termos de mudança só a razão não poderá dar conta. Amor, paixão e razão talvez!

E por último, mas não menos importante... obrigado pelas palavras carinhosas lá na Edublogosfera.

abração pra ti

Anônimo disse...

E ai Fernandão,

nao escrevo tão bem como vc, mas segue alguns comentários:

Política - A cada dia que passa chego a conclusão que não existe esquerda e direita. E sim somente quem está no poder contra quem não está. Não existem ideologias e visões sobre como deveria administrar o estado e sim conflito de egos. Um exemplo claro é o nosso governo hoje, nunca a esquerda foi tão direita como agora.

Economia - Não posso negar que sempre fui a favor do liberalismo, mas ele é utópico, algum controle sempre tem que existir, pois o mercado é imperfeito e alguns entraves precisam ser utilizados. O problema brasileiro hoje está muito ligado a questão tributária. A voracidade da nossa máquina estatal condena qualquer chance de um desenvolvimento forte e sustentável de nossa economia.

Educação - Realmente é um grande problema do Brasil e já começa pelo sistema de remuneração de nossos mestres. Incompatível com o conhecimento que eles carregam. Posso falar com extrema confiança que no estado em todos segmentos não existe meritocrácia, o seu conhecimento ou desenvolvimento passa desapercebido, como se não existisse. Essa gestão descuidada e amadora tem um preço e o preço é o sucateamento do sistema de ensino. A visão que tenho é que o tema gestão de pessoas nunca passou nem próximo da nossa capital federal. E o óbvio, não existe produção sem padronização, nem muito menos criaçao de conhecimento sem metodologia. Se não voltaríamos ao bel prazer do aleatório.
Muito bem escrito Fernandão.

Leandro

Professor Zeluiz disse...

Olá, meu amigo! Fazia um tempo que não passava por aqui... Mas não me esqueço de você.
Esse assunto dá pano pra manga, não é mesmo?! Quero lembrar - mais lenha na fogueira! - que a Educação mais padronizada do mundo ocidental certamente é a inglesa. Mas, nesta hora, tem enfrentado a crítica dos pensadores, pois o resultado final é semelhante ou "pior" que o de outros países desenvolvidos. Penso que a Educação tem muitos caminhos... e como diria Thiago de Melo, o que faz a diferença é o jeito de caminhar pelos caminhos.
Tenho prestado muita atenção à contradição deste século: a exacerbação do individualismo à despeito da propalada padronização. Sabe aquela história de quando você tenta prender dentro da mão e acaba escorrendo pelas frestas dos dedos?! Isto é, a hegemonia nunca será alcançada... ainda bem!
Sinceramente sou adepto da Customização, apesar de não me considerar um individualista. Acho que podemos avançar respeitando as diferenças todas. Creio que podemos formar sim a "aldeia global" multirreferencial. Não precisamos nos padronizar para que tenhamos uma Terra somente. Aliás, é no respeito à diferença que fazemos a diferença.
Um grande abraço.