quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

ASSÉDIO IDEOLÓGICO - DOUTRINANDO NA SALA DE AULA


RASCUNHO E DIVERSÃO ONLINE 


Este post é de 2009, cunhei a expressão "ASSÉDIO IDEOLÓGICO" bem antes da turma de Bolsonaro usá-lo para criticar professores de História

“Faz parte da humanidade de um mestre advertir seus alunos contra ele mesmo”
“O verdadeiro professor defende os seus alunos contra a sua própria influência”

   
VÍDEO ADICIONADO EM NOVEMBRO/2014 - Veja as legendas em tela inteira
            A ideia de escrever sobre este assunto surgiu de um comentário (veja último parágrafo) feito pelo meu amigo Zé Luiz, duas postagens atrás aqui no blog. Eu e o Zé fazíamos parcerias na escola para falar de política, ideologias, etc. Promovíamos debates (Link adicionado em 19/07/2016) com os alunos, sempre procurando esmiuçar os contrários socialismo/liberalismo, e direita/esquerda (felizmente ultrapassados, E AQUI -maio 2015) com objetivos unicamente informativos, analisando e problematizando os vários aspectos que envolviam a política brasileira na época.
            Nos anos que antecederam minha aposentadoria, sempre que as circunstâncias do meu conteúdo evidenciavam minha posição política, afirmava que o meu posicionamento e todas as ênfases eram pessoais, que os alunos deveriam procurar meu amigo Maykon Leite, professor de Geografia e "sangue novo" na escola, para comparar meu posicionamento com o dele, que embora suas preocupações sociais fossem parecidas com as minhas,sua posição política era radicalmente oposta (Parágrafo adicionado em 20/07/2016).
  É ingenuidade pensar que algum sistema possa ser perfeitamente bom ou fatalmente ruim, por isso, independente de socialismo ou liberalismo, só acredito em política ou ideologias, quaisquer que sejam, se quem as estiver praticando for movido unicamente por “elevados sentimentos de amor” (Che Guevara), e esta posição vale tanto para quem se coloca à “esquerda” ou à “direita” do razoável, por isso estou sempre procurando me livrar de "verdades" que em vez de somar, só dividem.
            Esta postura vale para qualquer discussão, e não estou argumentando a favor da neutralidade, politicamente ela só existe na covardia, estou falando é de impessoalidade, já que nós, professores, temos como matéria prima seres humanos em formação, cabendo, portanto, ajudá-los a contextualizar os acontecimentos e a pensar criticamente, para que cheguem, por eles mesmos, às suas próprias conclusões.
            Tive um amigo querido, falecido precocemente, Professor Marcos Latini, que dizia que “o erro do médico pode matar, mas o erro do professor aleija para sempre”. Não acho que nossa profissão seja um sacerdócio, mas atuamos em um espaço sagrado e “doutrinar” movido por “verdades” pessoais, impede o principal objetivo apregoado para a educação, que é criar cidadãos livres, autônomos e conscientes.
Sei que educadores que agem assim, não são deliberadamente ruins, suas posturas sempre são sinceras, porém, mesmo bem intencionados, sem querer, por conta da presunção de se acharem "donos da verdade", cometem os maiores desatinos e injustiças.
            Por seguir, ao pé da letra, o ensinamento do apóstolo Paulo, em Tess 5; 11 "Examinai tudo: abraçai o que é bom”, me recusar a ser enquadrado em “categorias” e defender obstinadamente o livre pensamento, também já fui vítima da intransigência dentro do ambiente escolar.
            Certa vez, como reação a uma agressão verbal, escrevi um artigo e, dentro de um contexto especifico, defendi o liberalismo econômico. Mas cometer “tamanha heresia” levou um colega, professor aqui de Muriaé, deixar comigo a marca de sua intolerância. Do nada, como se tivesse algum ressentimento comigo, taxou-me de “neoliberal desinformado”, e o mais grave, em tom profético, disse que eu não fazia idéia do quanto poderia prejudicar meus alunos com tamanha “contradição”, ser ao mesmo tempo, professor de História e liberal (???). E se fosse mesmo um liberal? Qual seria o problema?
            Situação semelhante foi quando participei do VIII Seminário Educacional de Educação Comunitária, em Brasília, e, com esta minha mania de jornalista amador (aqui também), tirei fotos com algumas personalidades, pois pretendia iniciar um jornal na escola. Uma delas era para uma entrevista com o então Ministro da Educação Paulo Renato e a outra, apenas uma foto, com Fernando Gonzalles y Rey, reitor da universidade de Havana.
            Um jornal de minha cidade quis fazer uma reportagem sobre a participação dos professores da escola neste congresso e usou as fotos da viagem para a reportagem.
Levei um exemplar deste jornal para a escola onde lecionava, em Itaperuna (RJ), e a vice-diretora o colocou no mural. Na hora do recreio fui abordado por uma colega, também professora de História, que, de forma arrogante e preconceituosa, sentiu-se no direito de me esculhambar diante dos colegas, criticando aquilo que, para ela, seria um escândalo cometido por um professor do nosso conteúdo... ser fotografado ao lado de um “ministro neoliberal do FHC”.
            Os radicalismos, quaisquer que sejam, deturpam e atrapalham nossa compreensão da realidade, daí a necessidade de redobrar os cuidados para não criar, em salas de aula, “armadilhas de sectarismo”, o pior inimigo de uma sociedade plural e heterogênea como a nossa.
ASSUNTOS RELACIONADOS (clique aqui):
http://twittanto.blogspot.com/2010/12/professor-de-historia.html
E AQUI, NA ABERTURA DA POSTAGEM:
http://bloguetando.blogspot.com/2010/10/comunicacao-e-uma-via-de-mao-dupla-um.html (Exemplo clássico na abertura da postagem)





"Eu gostaria de uma escola que suscitasse o debate... Gostaria? Então releia o primeiro e o segundo parágrafo 
Vídeos adicionados em 06/07/2016

Entrevista completa (CLIQUE AQUI) EXCELENTE!!!


CLIQUE AQUI, LINK ADICIONADO EM 29/11/2014, E AQUI OUTRO LINK PUBLICADO EM 09/10/2016

5 comentários:

Miriam Salles disse...

Fernando,
Um dia, quando bem mais jovem, pensei que o mundo poderia ser branco ou preto. A vida me ensinou que ele é listrado e é, realmente, uma pena que tanta gente tenha essa atitude que não dá margem para o aluno conhecer o "outro lado" de uma mesma moeda, para refletir e se posicionar frente a vida.
Hoje tenho muito pouca paciência com os "donos da verdade" em qualquer área da vida!
Gostei do seu post e o compartilhei lá no meu Google Reader!
bjo

Roseli Venancio Pedroso disse...

Oi Fernando,
É um prazer ler seus textos e me identifico bastante com sua linha de pensamento. Apesar de não ser professora mas sim, trabalhar diretamente com os alunos aqui na biblioteca, me preocupo muito com tais posturas radicais. Em minha área também vivo batendo de frente com pessoas assim( detentoras da verdade) - como se isso existisse mesmo. Bah! É o que penso e sigo em frente. Parabéns pela postagem.
Bjs

Professor Zeluiz disse...

Pois é, Fernando! No diálogo entre Ira Shor e Freire, há um momento em que se questionam sobre o direito de iniciar a transformação da consciência do aluno. Então o mestre explica: “Eu disse que o educador libertador nunca pode manipular os alunos e tampouco abandoná-los à própria sorte. O oposto da manipulação não é laissez-faire, nem a negação da responsabilidade que o professor tem na direção da educação. O professor libertador nem manipula, nem lava as mãos da responsabilidade que tem com os alunos. Assume um papel diretivo necessário para educar. Essa diretividade não é uma posição de comando, de “faça isso” ou “faça aquilo”, mas uma postura para dirigir um estudo sério sobre algum objeto, pelo qual os alunos reflitam sobre a intimidade de existência do objeto. Chamo essa posição de radical democrática, porque ela almeja a diretividade e a liberdade ao mesmo tempo, sem nenhum autoritarismo do professor e sem licenciosidade dos alunos.
Isso não é dominação. Dominação é se eu dissesse que se deve acreditar nisto porque estou dizendo. Manipulação é dominar os alunos. A manipulação, por exemplo, também cria mitos sobre a realidade. Ela nega a realidade, falsifica a realidade. [...]”

Sempre penso que Freire não morreu; está vivíssimo na obra que deixou. Basta pensarmos em qualquer assunto, relacionado direta ou indiretamente com educação, que ele irá estar lá, discutido, argumentado e contra argumentado e... com amor.
O livro referido pode ser lido de graça em: www.cefetrn.br/ensino/cursos-oferecidos/pos-graduacao/especializacao-proeja/...medo-e-ousadia.zip/view - 33k

Um grande abraço.

teacher vera disse...

oi, fernando. conheço bem esses radicalismos, vivencio alguns diariamente em meu colégio.tive um professor que dizia: um médico, ao cometer um erro, mata um paciente, um professor, mata 40 de uma vez! muito feliz esse teu artigo, vou indicá-lo la no meu blog, vai dar uma excelente discussão em HTPC!
como vês....você é um SUCESSO!
bjs

Jenny Horta disse...

Como disse o grande Leonardo Boff: Para educar é preciso CUIDADO- e o cuidado não pode ser intolerante,nem tampouco indiferente.