quarta-feira, 25 de junho de 2014

DE KANT ÀS REVOLUÇÕES PETISTAS

RASCUNHO ONLINE

   
TRABALHO DE MEU QUERIDISSIMO AMIGO PAULO FABRIS, MESTRE NA UFES, QUE DURANTE SEU PERÍODO DE MESTRADO PRODUZIU UMA PESQUISA SOBRE O MOVIMENTO ESTUDANTIL NA UFES ENTRE 1976 A 1980 

           Apesar das minhas limitações na área, sou formado em Filosofia, e como o hábito faz o monge, volta e meia peço ajuda a alguns filósofos para o entendimento do que estou querendo comunicar, e, apesar da admiração, a única vez que citei Immanuel Kant aqui no blog foi no dia dos namorados, em 2011.
           Mas hoje fui novamente movido pela fonte inspiradora do Facebook, e tomei a iniciativa de publicar esse post para falar de valores “sine qua non” à democracia, tais como  liberdade de imprensa, alternância no poder, independência entre os poderes da República, e, principalmente, o voto distrital, que considero fundamental para mudar o nosso sistema de representatividade,  a  única solução viável para controlar nossos Congressistas, que, em última instância, independente do próximo presidente, continuarão sendo os responsáveis por todas as nossas enfermidades políticas.
           Como escolhi um candidato que representa, nesse momento, esses valores que defendo, é natural que tenha aparecido forças contrárias, oriundas da “menoridade” provocada pela falta de esclarecimento, que, segundo Kant, é a incapacidade de pensar pela própria cabeça sem a tutela de um outro (no caso, as orientações do partido), por isso dividem a sociedade em “os esclarecidos, que são eles, e os trevosos, que são sempre os outros”, por isso resolvi jogar um pouco de luz na obscuridade que vagueia virtualmente nessas massas... cinzentas e sociais, e refazer para estas pessoas a mesma pergunta que Kant fez em 1783: O que é o Esclarecimento?  
           O que Kant falava nas “respostas às perguntas” é que o homem vivia (e ainda vive) em um período de menoridade, de tutelas externas, na época era a tutela das verdades religiosas, em que ele se acomodava em um estado não critico, de aceitação das verdades dos outros, e, segundo ele, fazemos isso por comodismo, já que é muito mais fácil pegar um livro de capa preta , a “Bíblia”, Alcorão ou “O Capital”, e acreditar que é ali o único lugar para se encontrar a verdade, com isso abdicamos da “crítica da razão” e não nos damos conta que, independente da religião ou política, as revoluções tem que ser pessoais, caso contrário, ficamos difundindo o que sempre aconteceu anteriormente, acabamos nos acomodando pela manutenção do estatus quo, que vem do latim “in statu quo res erant ante bellum” (no mesmo estado que antes), e mesmo que se consiga mudar alguns padrões, apenas substituiríamos os velhos problemas por novos problemas, e foi exatamente isso que aconteceu em todas as revoluções que conhecemos, no caso da chamada revolução petista, por onde anda aquele Quixote que combatia o dragão das trezentas picaretas? Não precisam responder!
             Coincidentemente, hoje conheci o trabalho de meu amigo Paulo Fabris, Mestre na UFES, que durante seu período de mestrado produziu uma pesquisa sobre o movimento estudantil na UFES entre 1976 a 1980 (vídeo acima).
                   Paulo produziu o roteiro do documentário intitulado "Geração Gota D'Água" que foi premiado pela Secretaria Estadual de Cultura do ES, que procura retratar o movimento dos estudantes capixabas no período e a passagem de muitos ex-militantes para a vida pública no ES.
                    Não sei o desfecho dos revolucionários acadêmicos que Paulo Fabris retratou, mas acredito, sinceramente, que salvo as exceções de qualquer regra, as vanguardas revolucionárias de ontem, quase sempre, são os reacionários de hoje (final do mesmo link).

Um comentário:

Unknown disse...

Querido Fernando,
Fiquei muito feliz e honrado com a postagem do meu documentário “Geração Gota d’Água” no seu Bloque. Na sua postagem, você levanta uma questão muito interessante ao afirmar que “salvo as exceções de qualquer regra, as vanguardas revolucionárias de ontem, quase sempre, são os reacionários de hoje”. No que se refere aos militantes estudantis da ufes na segunda metade da década de 1970, eu penso que não se pode afirmar que a “vanguarda” de então se enquadrava na categoria de “revolucionária”, no sentido marxista-leninista do termo. Ela, na verdade, era “reformista”, inserida na linha de pensamento do PCB. Havia sim um ideal operante, que era o desejo de se buscar uma maior justiça social e de reestabelecimento do estado de direito no país. Predominava no grupo a crença de que os interesses públicos estavam acima dos interesses privados e corporativos. Essa era a fundamentação do discurso sobre a necessidade de se ocupar o espaço público, conquistar cargos eletivos e controlar as instituições através de “gestores”, que nada mais são do que quadros partidários que passam ocupar posições estratégicas na máquina do Estado ou das prefeituras da região metropolitana de Vitória.

Não obstante, dentro desse contexto, a questão que você levanta faz todo sentido, visto que o novo se tornou velho. Com o passar do tempo, o projeto pessoal de conquista do poder se sobrepôs ao ideal de justiça social e ao discurso de que o governo pertence a coletividade, e não a seus ocupantes. Essa geração de novos homens públicos, socializada politicamente na universidade, hoje orienta suas ações buscando realizar um projeto pessoal de poder, da mesma forma que os políticos tradicionais que tanto combateram na juventude. Digo isso tendo em mente principalmente a figura mais expoente da minha geração, Paulo Hartung, que no momento exerce seu terceiro mandato como governador do Estado. O projeto do “Paulinho”, como ele era chamado pela turma, recebeu a adesão de um séquito de seguidores leais que o acompanha desde o final da década de 1970, projeto este que assumiu uma hegemonia na política capixaba e que hoje se parece muito com o “coronelismo”, que dominou a vida política brasileira até a nossa história política recente. Infelizmente essa é a realidade. Como você diz com toda propriedade, as exceções só estão aí para confirmar a regra. Grande abraço.