quinta-feira, 19 de março de 2009

FALTANDO VOLTAIRE EM NOSSAS ATITUDES



 “Não concordo com uma só palavra do que dizeis, 
mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-lo”

           Todos nós, professores, temos preferências por determinados conteúdos, e o “Iluminismo” é o tema que mais me identifico e o que mais me causa prazer e entusiasmo na sala de aula.
           Semana passada, falando sobre esta matéria no Ensino Médio, resolvi que ia escrever aqui no blog sobre Voltaire, uma personagem que admiro muito, principalmente depois do comentário da querida amiga Marli: "você está sempre filosofando", mas falar sobre Voltaire, sim, é o verdadeiro filosofar.
           François-Marie Arouet era o nome de batismo de Voltaire. Por suas múltiplas habilidades, tornou-se um homem muito rico e influente, realizando todo tipo de negócios, que iam desde fábricas de tecidos e relógios a aconselhamento de importantes monarcas do século XVIII; seus livros eram lidos por todos e suas peças apresentadas nos melhores teatros da Europa.
           Era um demolidor, com sua aguçada facilidade para a sátira, atacava as estruturas da sociedade burguesa, porém, sem deixar de desfrutar os benefícios desta sociedade que tanto ironizava.
           Contemporâneo de Voltaire, também vivia na Europa o brilhante filósofo Jean-Jacques Rousseau, precursor do socialismo e dos ideais da Revolução Francesa, cujas idéias eram voltadas contra a injustiça da época e, em sua obra mais conhecida, “O Contrato Social”, fazia um profundo estudo da sociedade sob o ponto de vista da legitimidade do poder político.
           Logo após o grande terremoto de Lisboa em 1755, Voltaire, um anticlerical combativo, que já havia escrito um poema ridicularizando a “teoria do castigo divino”, quando o clero francês explicara que o acontecido era um castigo de Deus para o povo português e, quando Rousseau deu sua explicação para o fato, dizendo que “a culpa do terremoto é da civilização, se os homens não morassem em casas, elas não lhes teriam caído em cima.”, Voltaire que já não apreciava suas idéias a respeito da “volta à natureza”, ironizou esta versão, dando início a um desafeto, cuja verdadeira causa era de natureza ideológica.
           Numa tentativa de esclarecer suas opiniões, Rousseau mandou para Voltaire um exemplar do seu livro “Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens”, onde aborda a hipotética volta do homem ao estado da natureza, quando ainda não conhecia a dependência surgida com o advento da propriedade, afirmando que a organização social corrompia a natureza humana e criticando duramente a mundo civilizado (já escrevi sobre isso: AQUI).
           Voltaire respondeu: “Acabei de receber seu livro contra a espécie humana, e agradeço. Ninguém foi tão refinado quanto ao senhor na tentativa de reconverter-nos em brutos. A leitura de seu livro produz o desejo de voltar a ficar de quatro”.
           A grande lição deste desentendimento “genial” foi quando as autoridades suíças queimaram em praça pública os livros de Rousseau, Voltaire, indignado, saiu em sua defesa, lançando seu famoso principio: *“Não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-lo”



 * "Eu desaprovo o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo"
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5 comentários:

Conceição Rosa disse...

Oi Fernando

Pouco conheço dos filósofos, conhecia um pouco mais de Rousseau do que de Voltaire, e por conta dos fundamentos da Educação, algo sobre Sócrates e Platão, e também por conta da faculdade, vi um pouco de Kant e Marx...
Mas, por que este comentário? Bem, como você vive filosofando, achei que você gostaria de ver o "Futebol dos Filósofos" no Youtube. É filosoficamente muito engraçado...

https://http//bloguetando.blogspot.com disse...

FERNANDÃO disse...
Querida Conceição,
Rousseau, em nosso meio, é muito mais conhecido e cotado do que Voltaire, principalmente nestes tempos de aquecimento global e de crise no capitalismo.
Eu, particularmente, prefiro esta filosofia aqui, que é bem mais profunda e significativa ( http://www.youtube.com/watch?v=d8uV0XBz1iE ).
Bjs

Roseli Venancio Pedroso disse...

Fernando, é sempre um prazer ler seus textos. E essa passagem da rivalidade entre esses dois grandes filósofos então...Essa frase de Voltaire é maravilhosa! É uma lição de democracia e respeito pela pensamento alheio. Parabéns!

Unknown disse...

Voltaire
Voltaire cultivou profunda fé na razão humana, para ele, as ciências e as artes era m os grandes instrumentos de emancipação do homem, um ilumista por excelência. Roussseau, por sua vez, via nas ciências e as artes as causas da corrupção da sociedade, da perda da bondade original existente no estado de natureza. Na contramão do pensamento do seu tempo, Rousseau dizia que eram as emoções que ativavam a razão, os sentimentos vem primeiro. Ele e Voltaire eram antinômicos, opostos no pensamento e no estilo de vida. Votaire era amante dos salões, de frases agudas e espirituosas, iluminava com sua presença. Rousseau um homem introspectivo, anticonvencional, até mesmo taciturno, tinha profunda rejeição às convenções e aos valores burgueses. Era homem de parcos recursos financeiro, ao contrário de Voltaire que era rico, esperto, sagaz na arte de ganhar dinheiro. Cada qual, à sua maneira, deixou um riquíssimo legado, um a ideia da liberdade e da igualdade, princípios que norteiam as sociedades democráticas modernas, o outro, uma reflexão crítica em vários aspectos da vida humana, como, por exemplo, a política e a religião - mais especificamente a Igreja. Combateu veementemente as superstições que impendem a emancipação humana. Ele era um defensor incondicional da tolerância diante a diversidade de pensamento. Atacou Rousseau, divergiu dele em tudo, mas o defendeu quando teve seus livros queimados em Genebra. Certa vez escreveu à Rousseau e disse: “não concordo com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-las”.
O Brasil recebe a visita da cubana Yaoni Sánches, que vem sendo sistematicamente atacada por grupos raivosos de esquerda que vivem em uma sociedade democrática e, contraditoriamente, defendem a ausência de liberdade de pensamento na Ilha de Fidel e Castro. Para esses grupos a diversidade é perversa, ao contrário do que defende Voltaire, que via nela a mola propulsora da sociedade humana. Passado mais de dois séculos, os pensamentos de Voltaire e Rousseau, continuam vivos, atuais, e são referências para se pensar o nosso tempo, o mundo que desejamos para nós e para as gerações futuras. Vale a pena uma visita as suas obras, são pensadores que apesar das diferenças profundas, se encontram no ideal de uma sociedade mais justa.

Anônimo disse...

FUTEBOL DOS FILÓSOFOS
https://www.youtube.com/watch?v=ig7hCH-Oqzk