“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo”. Bertolt Brecht
Como um autentico “analfabeto político”, sempre me limitei às criticas quando se tratava de política municipal, cheguei a defender a democracia direta, através de plebiscitos, para não ter que delegar tantos poderes a políticos incompetentes e interesseiros, só desisti da ideia por causa dos vários plebiscitos realizados por Hugo Chaves, na Venezuela, para se perpetuar no poder.
Quem não viveu no interior de Minas Gerais não faz ideia do que era a política até alguns anos atrás e, embora ainda haja resquícios fortes deste passado recente, os interesses hoje são mais objetivos e não mais uma paixão doentia como por um time de futebol.
Aqui em Muriaé tínhamos os “poaias” e os “goteiras” que se digladiavam e, em alguns raros casos, até a morte, como aconteceu com meu amigo Edson Padaria, assassinado numa discussão política às vésperas de uma eleição municipal.
Me considero privilegiado, minha mãe era “goteira” e meu pai “poaia”, por isso cresci híbrido, “enxergando” defeitos e "qualidades" nos dois lados.
Talvez pela proximidade com as personagens deste grande circo, tinha verdadeira aversão à política local, não me dava conta, entretanto, era de que uma edificação que se preze tem que se iniciada pela base, por isso, deixei o preconceito de lado e, efetivamente, resolvi dar a minha contribuição, assim, além de colaborar para melhorar o entendimento de meus alunos sobre cidadania, tomo posse de um espaço que sempre foi ocupado por pessoas, cujas necessidades são completamente opostas às minhas ou ao bem comum.
Tenho plena consciência de como funciona o teatro da política partidária municipal, onde a maioria dos líderes não passam de manipuladores, e através de seus cabos eleitorais vão distribuindo migalhas entre seus militantes partidários, na forma de cargos e favores, que, em troca, os aplaudem, incondicionalmente, como se fossem meras claques de auditório, caso contrário, independende de competência, não poderão desfrutar das benécias do poder, e entende-se como benécias... quem tem consciência sabe destes limites.
Este é o grande problema das nossas bases políticas... tudo é feito de cima para baixo, não existe autonomia para que lideranças locais promovam junto à comunidade as discussões necessárias para estabelecer prioridades, planejar e reivindicar, muito menos mobilizar para pressionar ou convencer autoridades daquilo que realmente seja do interesse comum.
Depois de ter trabalhado por quase cinco anos na Escola Estadual Profª Antônia Múglia, com quase 90% dos alunos do bairro Aeroporto, foi só agora, com o Projovem, lecionando à noite para jovens entre 18 e 29 anos, na escola do bairro, é que senti a necessidade de participar da política.
Em vez de ficar reclamando do poder público, Válber me falava da dificuldade em relação à indiferença e a descrença da população do bairro na eficácia de uma mobilização para pressionar e conseguir o que ele considera duas prioridades importantíssimas para o bairro... uma praça com área de lazer (minha aluna, Nilza, da sala 04 do Projovem, disse que deu uma bicicleta para seu filho no natal de 2008 e ela continua novinha até hoje por falta de lugar para usar), e a urbanização de uma rua, que por estar no final da pista do aeroporto, oficialmente não existe, e, por isso, a prefeitura não pode realizar nenhuma obra de infraestrutura. Foi nesta rua escura o assassinato do nosso aluno do Projovem, Samuel, na noite do dia 23/11/2009.
Nenhuma administração até hoje se propôs a resolver este problema com a alegação de que não existe área disponível para que a praça seja construída, e a rua deveria ser desativada, com construção de novas casas em outra área, o que certamente envolveria grandes gastos com desapropriações, daí o desinteresse em resolver o problema.
Além disso, para viabilizar estas necessidades, seria necessário que um político local levantasse esta bandeira com prioridade, e, por isso, sugeri ao Binho que se candidatasse a vereador nas próximas eleições e começar a mobilizar a comunidade para realizar estas necessidades.
Até que se faça uma reforma política de verdade (Não deixe de clicar no link), esta foi a forma pontual e paliativa que encontramos para exercer nossa cidadania.
Atualização em 15/07/2012: Na eleição passada, o Válber, já era presidente da Associação de Moradores do Bairro Aeroporto e não foi candidato, o que me deixou surpreso... não quis se candidatar a vereador. Normalmente não é essa a lógica, passei a admirá-lo mais ainda.
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