quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

POLÍTICA PARTIDÁRIA

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           Quem não viveu no interior de Minas Gerais não faz ideia do que era a política até alguns anos atrás e, embora ainda haja resquícios fortes deste passado recente, os interesses hoje são mais objetivos e não tem mais aquela antiga paixão só comparada ao amor por um time de futebol.
           Aqui em Muriaé tínhamos os “puaias” e os “goteiras” que se digladiavam e, em alguns raros casos, até a morte, como aconteceu com meu amigo Edson Padaria, assassinado numa discussão política às vésperas de uma eleição municipal.
           Me considero privilegiado, minha mãe era “goteira” e meu pai “puaia”, por isso cresci híbrido, “enxergando” defeitos e "qualidades" nos dois lados.
           Talvez pela proximidade com as personagens deste grande circo, tinha verdadeira aversão à política local.
           Não me dava conta, entretanto, era de que uma edificação que se preze tem que se iniciada pela base, por isso, deixei o preconceito de lado e, efetivamente, resolvi dar a minha contribuição, assim, além de colaborar para melhorar o entendimento de meus alunos sobre cidadania, tomo posse de um espaço que sempre foi ocupado por pessoas, cujas necessidades são completamente opostas às minhas ou ao bem comum.
           Tenho plena consciência de como funciona o teatro da política partidária municipal, onde a maioria dos líderes não passa de manipuladores, e através de seus cabos eleitorais vão distribuindo migalhas entre seus militantes partidários, na forma de cargos e favores, que, em troca, os aplaudem, incondicionalmente, como se fossem meras claques de auditório, caso contrário, independende de competência, não poderão desfrutar das benécias do poder.
           Este é o grande problema das nossas bases políticas... tudo é feito de cima para baixo, não existe autonomia para que lideranças locais promovam junto à comunidade as discussões necessárias para estabelecer prioridades, planejar e reivindicar, muito menos mobilizar para pressionar ou convencer autoridades daquilo que realmente seja do interesse comum.
           Depois de ter trabalhado por quase cinco anos na Escola Estadual Profª Antônia Múglia, com quase 90% dos alunos do bairro Aeroporto, foi só agora, com o Projovem, lecionando à noite para jovens entre 18 e 29 anos, na escola do bairro, é que senti a necessidade de pa
rticipar da política.
           Dois motivos me levaram a tomar esta atitude, o primeiro foi o contato com as idéias da minha querida amiga Profª Soraia, que foge completamente aos padrões tradicionais do político mineiro, talvez a falta de costume do eleitorado com novas idéias tenha sido a causa de sua derrota nas últimas eleições, quando perdeu por uma margem de um pouco mais de 1% para a prefeitura da vizinha cidade de Guidoval, mas que, certamente, será a futura prefeita de lá.
           O segundo motivo foi conviver em um bairro carente como o Aeroporto, e ter descoberto a vocação política de um de meus alunos mais aplicados, Válber Leandro (Binho), que, apesar de muito jovem, já está envolvido há muito tempo com os problemas da sua comunidade, e, por conta disso, já foi eleito duas vezes presidente da Associação de Moradores.
           Em vez de ficar reclamando do poder público, Válber me falava da dificuldade em relação à indiferença e a descrença da população do bairro na eficácia de uma mobilização para pressionar e conseguir o que ele considera duas prioridades importantíssimas para o bairro... uma praça com área de lazer (minha aluna, Nilza, da sala 04 do Projovem, disse que deu uma bicicleta para seu filho no natal de 2008 e ela continua novinha até hoje por falta de lugar para usar), e a urbanização de uma rua, que por estar no final da pista do aeroporto, oficialmente não existe, e, por isso, a prefeitura não pode realizar nenhuma obra de infraestrutura. Foi nesta rua escura
o assassinato do nosso aluno do Projovem, Samuel, na noite do dia 23/11/2009.
          
 Nenhuma administração até hoje se propôs a resolver este problema com a alegação de que não existe área disponível para que a praça seja construída, e a rua deveria ser desativada, com construção de novas casas em outra área, o que certamente envolveria grandes gastos com desapropriações, daí o desinteresse em resolver o problema.
           
Além disso, para viabilizar estas necessidades, seria necessário que um político local levantasse esta bandeira com prioridade, e, por isso, sugeri ao Binho que se candidatasse a vereador nas próximas eleições, e da forma mais pragmática possível, combinamos juntos, de nos filiar a um partido político forte (nunca fui filiado a partido algum), e começar a mobilizar a comunidade para realizar estas necessidades.
          
 Escolhemos o partido do atual prefeito porque este é o seu segundo mandado de uma carreira política que começou depois de uma vida inteira de sucessos pessoais e bons exemplos dentro da comunidade, tendo mostrado ter sido o melhor administrador que nossa cidade já teve, também por não se enquadrar no estereótipo do político manipulador, bajulador e que gosta de ser adulado. Além disso, segundo Binho, a pressão feita por aliados é muito mais eficiente do que se fosse feita por adversários políticos.
           Até que se faça uma reforma política de verdade, esta foi a forma paliativa que encontramos para exercer nossa cidadania.


Atualização em 15/07/2012
   Na eleição passada, o Válber, já era presidente da Associação de Moradores do Bairro Aeroporto e não foi candidato, agora me deixou surpreso, tb não se candidatou a vereador. 
   Aumentou minha admiração, não que não reconheça a relevância do cargo, mas pela quantidade de pessoas despreparadas pleiteando esta "boquinha".
  Política municipal só faz sentido para mim AQUIquando puder decidir e influir, realmente, sobre os grandes problemas nacionais, todo o resto não passa de ignorância política, interesses pessoais ligados a pouco amor ao próximo (raríssimas exceções), vaidades, "egos esperneantes", ou ao óbvio... dinheiro, emprego, etc.
"...e tudo como dantes no quartel de Abrantes". 
E as reclamações também continuarão como antes...

11 comentários:

icximenes disse...

Parabéns pela iniciativa.

Só poderemos melhorar a qualidade dos políticos se adotarmos atitudes pró ativas.

Abração
Ivanildo Ximenes

Adinalzir disse...

Caro Fernandão

Não custa nada tentar. A política sempre precisa de renovação, de novas idéias e principalmente ética. A sua pessoa me passa essa impressão, com toda certeza. Mesmo não sendo um eleitor daí, conte com meu voto! Rsss...

Abraços, :-)

Jenny Horta disse...

Caro amigo Fernando, se antes, já admirava sua dedicação, agora só reforço esssa admiração, pois assumir uma posição fora dos muros da escola é a forma de colher frutos dentro dela. Grande abraço e boa sorte!

Elis Zampieri disse...

Fernando...Sempre achei que a política corrompe. Mas eu quero muito estar errada. Fazer a coisa certa quando não se teve a oportunidade de fazer a coisa errada é fácil. Difícil é ter a oportunidade e manter-se firme nas suas verdades e princípios.

Sucesso e muita força. Você é do bem e eu queria muito poder votar em você também :-)

Um beijo meu amigo.

Roseli Venancio Pedroso disse...

Fernando,
Fico feliz em saber dessa sua nova iniciativa. Precisamos mesmo sair desse modo "paralisado" em que nos encontramos e arregaçar as mangas para fazer algo melhor. Críticas somente não mudam nada. Força e coragem nessa nova etapa. Com certeza contará com o apoio dos que te admiram.
Bjs

Sérgio Lima disse...

Opa Fernandão.

A política partidária é, também, um cminho válido. Talvez a escolha do partido em função das pessoas não seja uma boa estratégia, mas falando assim de fora do contexto é sempre difícil.

Espero que os valores como ética e justiça nã sejam atropelados.

Sucesso na empreitada.

Professor Zeluiz disse...

Olá, Fernando!
Continuo rejeitando a democracia indireta. Mas também não acho que os plebiscitos e referendos deem conta de tudo.
Saúdo sua iniciativa e desejo que você tenha muita paciência.
Um abraço.

Sidney Oliveira disse...

Gostei da iniciativa de renovação sou proprietario do site www.clicamuriae.com.br moro em Muriaé a cinco anos e com certeza com Valber se elegendo a VEREADOR acabaremos um pouco com a desigualdade em nossa cidade contem com meu apoio.
Sidney Oliveira.

Anônimo disse...

nesses 2 mandatos venho acompanhando o trabalho e o esforço que o binha vem fazendo em favor do bairro aeroporto fazendo reivindicaçoes e ajudando os moradores do bairro com certeza este e o caminho. Em 2012 é vc la na cámara municipal

Unknown disse...

Olá, Boa noite Fernando! Você não poderia ter escolhido melhor candidato a vereador sou suspeita pra falar pois é meu maninho, mas sei como ele tem se envolvido com os problemas do bairro.Enquanto muitos políticos só aparece em tempo de eleição ele vive no meio do povo, convive com as dificuldades do bairro e tem o desejo e a coragem para mudar a situação.Tem todo meu apoio. Um abraço!

Israel Mattozo disse...

Grande Fernandão! (nossa, que pleonasmo!)

Você tem toda razão, é preciso sim se envolver na política, o que não significa, necessariamente, ser partidário, mas, se for, melhor ainda. Desde que esse envolvimento seja lúcido, com clareza sobre a ideologia desse partido e, principalmente, consciente de que ser partidário não significa concordar e nem aceitar todas as imposições do escolhido partido.
O problema que sempre se apresenta pra mim está em saber se é possível se manter incorruptível num ambiente tomado pela corrupção? Será que alguém consegue ser eleito sem transgredir nenhuma lei do TSE? E depois, para se manter no poder ou até mesmo para conseguir benefícios para sua comunidade, que lógica interna os vereadores terão que se submeter para cumprir com o que prometeram? Porque eles não conseguirão nada sem realizar alianças, inclusive com políticos de outros partidos. Talvez essa seja a desonesta honestidade necessária para alcançar algum benefício para o povo que, no fim das contas, sempre fica em segundo plano.

Os fins justificam os meios?

Grande abraço Fernandão e parabéns mais uma vez.