segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

SAUDOSISMO PATOLÓGICO DAQUELA “ESCOLA DE ANTIGAMENTE”


RASCUNHO ONLINE

                       Só muito recentemente fiquei conhecendo as “inteligências múltiplas” (não deixe de clicar), particularmente “inteligência emocional”, e a descoberta desta outra inteligência, que não a racional (QI), expandiu meus horizontes pedagógicos e criou novos parâmetros para a compreensão daqueles alunos com sérias dificuldades de aprendizado, mas que quando adultos, se davam muito bem, tanto na vida pessoal como na profissional, e, por não canalizarem esta inteligência no período escolar, eram as principais vítimas daquele perverso sistema de ensino.
           Vi outro dia na televisão, um hipnólogo afirmando que se sugestionasse alguém em transe, um lápis poderia se transformar em um ferro em brasa, e até formar bolhas de queimadura ao contato com a pele.
           Não posso garantir isso, mas sei que uma imagem mental, mesmo quando formada por alguma falha na percepção dos sentidos, torna-se tão real quanto a própria realidade.
           Sempre quando ouço falar que a educação de antigamente era muito superior a de hoje, noto que esta afirmação também não passa de uma falha na percepção, visto que, além da nossa realidade ser muito mais complexa, os resultados pedagógicos positivos daquela época eram apenas parciais.
           Nos anos 50 existia uma frase comum aos alunos com dificuldades de aprendizado... “nasceu para o cabo da enxada”, por isso, a grande maioria estudava só até o quarto ano do “primário”, depois, simplesmente, abandonavam os estudos.
           Esta evasão acontecia aqui em Muriaé, quando só existia escola pública para o primário (1º ao 4º ano do Ensino Fundamental), e só as elites frequentavam o “Ginásio” (5ª a 9ª série) e o "Científico (1º ao 3º ano do Ensino Médio)".
             O primeiro ano ginasial começava com quatro ou cinco salas... 1º A, 1º B, 1ºC, etc., os alunos eram apartados como gado em salas com diversos níveis, “adiantados” e “atrasados”, de acordo com a classificação no exame de "admissão ao ginásio" e, no próximo ano, o segundo ano ginasial, por causa da evasão, passava a ter, no máximo, duas salas.
          Estes evadidos não são computados nas comparações entre a escola atual e a “escola de antigamente”, assim como não se dá a devida importância à inclusão na evolução de nossa cidadania, por isso o equívoco permanece.
           Não vivemos mais em um regime fascista de elites, a sala de aula representa a nossa sociedade como um todo, com o que tem de “atrasado” e “adiantado”, e nós, professores, lidamos com problemas sociais muito mais complexos e nossa função, além de instruir, também é social, somos professores e educadores, e, por isso mesmo, muito mais importante, pois quando melhoramos alunos de uma sala heterogênea estamos, na realidade, aperfeiçoando toda a sociedade.
           Transformar a imagem mental que se faz da realidade, às vezes fundada em parâmetros falsos, é muito mais difícil do que mudar a própria realidade. Quem acreditaria, por exemplo, há algum tempo, que fosse possível eleições para diretor de escola (ou concursos), tirando a influência dos políticos na indicação deste cargo? Quem imaginaria dar autonomia financeira às escolas, descentralizando as compras? Estas eram feitas em grande escala diretamente na Secretaria em Belo Horizonte, com as naturais oportunidades de propinas que, infelizmente, até hoje conhecemos muito bem, comprando aquelas merendas horríveis e caras, em vez de produtos locais e frescos, escolhidos à dedo, em qualidade e preço, como as merendas que encontramos hoje nas escolas públicas, sem contar os benefícios que estes recursos trazem para o comércio local.
            Aprender lições com a trajetória humana é função da História... Quem imaginaria todas estas mudanças na educação? Por uma simples perspectiva pelo que já avançamos, dá para vislumbrar as transformações inadiáveis e imprescindíveis que estão por vir... inclusive com salários compatíveis com o nível e a importância desta atividade. É a lógica de um país que pretende ser a quinta economia do mundo.
           Por isso, nós professores, precisamos ter convicção nos resultados do nosso trabalho, compreender o tempo e a realidade que vivemos, em vez de ficar diminuindo a autoestima de nossos alunos e professores com este tipo estéril de comparação, que, além de criar uma imagem mental completamente distorcida da realidade, desvaloriza a escola atual, dificultando o reconhecimento da sua importância na transformação da sociedade.
           Precisamos é parar de reclamar e nos valorizar mais como profissionais eficientes que somos, reverter todas as expectativas negativas, e simplesmente assumir nossa realidade social tal como ela é, sem máscaras, e procurar na própria sociedade as soluções para os problemas decorrentes desta realidade, viver de fato o nosso tempo, assim, poderemos arregaçar as mangas e começar a trabalhar, pois trabalho é o que não falta nesta imensa seara.

2 comentários:

Malvina disse...

Caro Fernando,
Muito bom seu texto, mas que tudo, o seu interesse e sua abertura, para sentir que os tempos mudaram e que nem sempre o atrasado é aquele ser humano que vai dar errado lá na frente!
Att,
Vininha

EE BRASIL disse...

oi, fernando....como sempre seu texto está excelente! Concordo que todos precisam valorizar o trabalho e interiorizar que o aprendizado de um jovem vai muito além dos conceitos das disciplinas....o exemplo que damos a eles, o carinho da nossa convivência ajudam-nos a crescer e e a burilar essa pedrinha bruta que recebemos nas séries iniciais.....temos que valorizar muito a IE.....ela leva as pessoas muito longe! abç
vera