terça-feira, 18 de maio de 2021

“QUE DEUS VENHA” (Clarice Lispector por Cazuza e Frejat)


RASCUNHO E DIVERSÃO ONLINE

      
 

        

 Cazuza e Frejat fizeram esse poema de um trecho em prosa do livro "Água Viva", de Clarice  

Sou inquieto, áspero e desesperançado
Embora amor dentro de mim eu tenha
Só que eu não sei usar amor
Às vezes arranha feito farpa
Se tanto amor dentro de mim eu tenho
E no entanto eu continuo inquieto
É que eu preciso que o Deus venha
Antes que seja tarde demais
Corro perigo
Como toda pessoa que vive
E a única coisa que me espera
É o inesperado
Mas eu sei
Que eu vou ter paz antes da morte
Que eu vou experimentar um dia
O delicado da vida
Vou aprender
Como se come e vive
O gosto da comida
Sou inquieto, áspero e desesperançado
Embora amor dentro de mim eu tenha
Só que eu não sei usar amor, não
Às vezes arranha, arranha feito farpa

Trecho de onde os artistas tiraram a letra do "Que Deus Venha"

"Precisando mais do que a força humana. Sou forte mas também destrutiva. O Deus tem que vir a mim já que não tenho ido a Ele. Que o Deus venha: por favor. Mesmo que eu não mereça. Venha. Ou talvez os que menos merecem mais precisem. Sou inquieta e áspera e desesperançada. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor. Às vezes me arranha como se fossem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e no entanto continuo inquieta é porque preciso que o Deus venha. Venha antes que seja tarde demais. Corro perigo como toda pessoa que vive. E a única coisa que me espera é exatamente o inesperado. Mas sei que terei paz antes da morte e que experimentarei um dia o delicado da vida. Perceberei - assim como se come e se vive o gosto da comida. Minha voz cai no abismo de teu silêncio. Tu me lês em silêncio. Mas nesse ilimitado campo mudo desdobro as asas, livre para viver. então aceito o pior e entro no âmago da morte e para isto estou viva. O âmago sensível. E vibra-me esse it."
(In: LISPECTOR, Clarice. Água Viva. Rio de Janeiro: Artenova, 1973)

     

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