“Machuca muito mais, às vezes, do que um murro”
No finalzinho do ultimo post falei em diminuir o tamanho dos meus textos, mas como este não é assunto para meme ou para ser discutido em apenas três linhas, como acabou de dizer Tiago Leifert, é um assunto que se precisa "pedir perdão preventivo" ao tentar trazer mais luz à uma discussão que, definitivamente, não estou acostumado.
No BBB do ano passado o programa pecou na falta de representatividade, com apenas dois pretos, Telma Assis e Babu. e como o racismo lá também foi recorrente, e Babu foi o precursor dessa abordagem sobre o assunto. Ainda está fresca minha lembrança da hashteg #babunãoéescravo.
Felizmente esse ano a emissora corrigiu o problema com maior participação de 09 negros entre os 20 participantes, que bom que isso tenha acontecido para nós, "homens brancos", estamos "sentindo na pele", empaticamente, a dor do professor João Luiz, mostrando que a piada do Rodolfo "tocou em um ponto especifico" de sua mente, trazendo à tona a dor de um sofrimento acumulado, como disse, presenciado por ele durante toda a sua vida..
Sei da dificuldade de boa parte da população, inclusive de alguns negros, para perceber a razão dessa revolta em relação a esse incrustado e invisível racismo, cheguei a ver comentários debochados de pretos falando que a atitude do brother foi "frescuragem".
Sempre procurei mostrar para meus filhos, meus alunos e para todos os meus amigos o quanto são nocivas as opiniões preconcebidas (opinião anterior) sobre um determinado grupo sem ter informações que as justifiquem, sobretudo, como aconteceu na TV a respeito do racismo inconsciente e invisível que permeia a vida de todos nós "homens brancos", e refazer humildemente qualquer opinião equivocada.
Dois episódios recentes evidenciaram a necessidade de redobrar os cuidados com as palavras e as minhas atitudes, o primeiro dos dois foi o racismo que eu e a Inês sofremos nos EUA pelo simples fato de sermos latinos. O outro foi aqui em um desentendimento sobre política com um professor preto, talvez porque ele viva classificando de "elite branca" quem não pensa igual a ele, acabou desviado para um suposto racismo de minha parte que, conscientemente, afirmo que não existiu, já que todo o diálogo, na hora que me acusou, estava registrado.
Sempre me manifestei verbalizando o quanto o admiro por sua persistência, conquistas,
simpatia e inteligência, mais, conheço toda a sua trajetória para chegar ao topo de nossa carreira, mas ele me fez sentir, bem no fundo
da minha alma, certamente sem a mesma carga de sofrimentos, o preconceito, às avessas, tão discriminatório quanto os outros.
Talvez por uma resposta reativa natural em relação a este processo histórico de discriminação racial, em meio a nossa acalorada discussão política, me me fez essa acusação, indignado, minha reação foi imediata, revidei o chamando de "escroto", que estava me sentindo ultrajado com aquele adjetivo, pedindo que ele mostrasse ali, nos nossos "comentários", ainda que fosse nas entrelinhas, onde eu o tinha ofendido, talvez minha dor seja uma pálida ofensa diante das que ele sofreu ao longo da vida, mas para mim foi ultrajante ser acusado de racista.
Como não me apontou onde teria feito a acusação, o papo encerrou, mas no mesmo dia, em off, pedi perdão pelo "escroto", e ele justificou que o "racista" que ele havia me chamado era o estrutural, explicando o que era, como se eu não soubesse, retruquei afirmando que nossa discussão era política e que não havia contexto para ele ter me chamado de racista. Insatisfeito com meu pedido de desculpas acrescentou que o lugar mais adequado para minhas desculpas seria onde eu o tinha chamado de "escroto", onde ele tinha sido ofendido. Por pouco não recomeçamos a discussão, já que disse que se voltasse lá para me desculpar, ele também teria que se desculpar por ter me "xingado" e ofendido profundamente ao me chamar de racista. Não aconteceu nem uma coisa nem outra e desde então não nos falamos mais.
Em relação ao racismo, não tenho dúvidas que também sou fruto da sociedade e do meio em que sempre vivi, não me excluo do resto dos brasileiros, tenho consciência de que sou um "racista em desconstrução", e procuro observar, sempre analisando atentamente todas as minhas reações, mesmo as mais sutis e imperceptíveis, observando essas deformações em mim resultantes de uma cultura enraizada de tantos séculos de escravidão.
* Esse amigo (ex-amigo?) que reportei, se achar que o registro da minha memória foi diferente de suas lembranças do que aconteceu, meu espaço aqui ou no Facebook sempre estará aberto para suas contestações.
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